O mercado de custódia de direitos creditórios dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) tem se mostrado concentrado nas mãos dos maiores bancos privados no país. A liderança deste mercado, medida através do critério de Patrimônio Líquido (PL) consolidado dos fundos sob custódia de cada participante, tem sido exercida pelo Banco Bradesco (Bradesco) desde o final de 2010. Porém, caso seja contabilizado o FIDC Sistema Petrobras NP, o Itaú Unibanco (Itaú) passa a superar atualmente o Bradesco. A Uqbar normalmente exclui este fundo de análises consolidadas devido ao seu tamanho relativamente desproporcional e a algumas de suas especificidades.

Nos últimos anos a participação dos líderes deste mercado foi impactada pontual e cumulativamente por desdobramentos da crise financeira de 2008/2009, de problemas de solvência de bancos de menor porte e também pelo desenvolvimento natural de novos negócios de peso. Assim, na análise que se segue, a qual é focada na trajetória recente dos três maiores participantes atuais do mercado de custódia, a Uqbar descreve as movimentações relevantes que ocorreram no período de 2008 para cá, movimentações estas que se explicam pelos três fatores citados acima.

Vale notar que a responsabilidade regulamentar atribuída ao custodiante inclui, entre outras tarefas adicionais, a custódia física dos recebíveis, bem como sua cobrança ordinária.

A Figura 1 exibe o histórico do PL consolidado por custodiante desde 2008, desconsiderando-se o FIDC Sistema Petrobras NP.

Figura 1


Conforme indicado na figura acima, o Bradesco ocupa hoje a liderança do ranking por montante de PL. Refazendo-se sua trajetória, a partir do último trimestre de 2008 este participante alcançou e passou a disputar a primeira posição no mercado com um outro banco, o Itaú. Este avanço se deu em função dos mandatos conquistados naquele momento para a custódia de 22 fundos que foram criados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) como reflexo da gestão financeira que se fez necessária a partir da crise de 2008/2009. Esses fundos, que iniciaram suas operações ainda em 2008, apresentaram em conjunto um PL de R$ 4,36 bilhões no final daquele ano, possibilitando assim um crescimento para o Bradesco em três meses equivalente a 49,7% do volume custodiado, de R$ 8,83 bilhões no final de setembro de 2008 para R$ 13,21 bilhões no final de dezembro de 2008.

Nos dois anos seguintes, o valor total de PL dos fundos custodiados pelo Bradesco apresentou tendência de queda, se reduzindo para R$ 9,08 bilhões no final de novembro de 2010. A partir daí, o valor de PL retomou a ascendência, atingindo R$ 12,01 bilhões em janeiro de 2011, e colocando o Bradesco na liderança que até então se alternava entre o próprio e o Itaú. Três fundos recém-constituídos naquela época explicam boa parte deste movimento: os FIDC Chemical V Indústria Petroquímica (R$ 608,0 milhões), BV Financeira NP (R$ 1,09 bilhão) e F BP Financeiro (R$ 730,7 milhões), sendo que este último também foi criado pelo FGC, já associado à venda do Banco Panamericano, que atuou como seu cedente.

A trajetória de crescimento de PL dos fundos sob custódia do Bradesco iria passar por mais dois pontos de inflexão. O primeiro se deu em abril de 2011 com o início das atividades do FIDC Caixa BTG Pactual Multisegmentos NP, que resultou da compra do Banco Panamericano pelo BTG Pactual e pela Caixa Econômica Federal, apresentando PL de R$ 3,46 bilhões no final daquele mês. Esse fundo elevou o PL consolidado de R$ 11,82 bilhões em março de 2011 para R$ 15,05 bilhões em abril (crescimento de 27,3%).

Quanto ao segundo ponto (mais expressivo do que o primeiro), este ocorreu no último quadrimestre de 2011, ocasionado pelo aumento generalizado de PL de 28 fundos custodiados pelo Bradesco e pela constituição de onze novos fundos no período, em especial os FIDC BV Financeira VI e F ACB Financeiro (criado pelo FGC), cujos valores de PL registrados no final de 2011 eram de R$ 2,75 bilhões e R$ 4,10 bilhões respectivamente. Os respectivos cedentes desses fundos são a BV Financeira (pertencente ao Banco Votorantim) e o Banco Cruzeiro do Sul. Os eventos acima culminaram num salto do PL consolidado de R$ 15,27 bilhões no final de agosto de 2011 para R$ 24,50 bilhões no final de dezembro do mesmo ano, equivalente a uma elevação de 60,5%.

O valor consolidado de PL dos fundos custodiados pelo Bradesco permaneceu estável até o final de outubro de 2012, mas no mês seguinte este sofreu uma queda de 8,0%, diminuindo de R$ 24,09 bilhões para R$ 22,17 bilhões. Tal movimento se explica pelo resgate integral das cotas sênior do FIDC BV Financeira IV, que acarretou em uma redução de 72,8% do seu PL entre o final de outubro e o final de novembro daquele ano (de R$ 1,66 bilhão para R$ 438,6 milhões).

Finalmente, o desempenho do PL consolidado no primeiro trimestre de 2013 vem sendo declinante, mas não o suficiente para afetar de forma relevante a distância que separa o PL custodiado pelo Bradesco do PL referente aos demais participantes. Esta redução recente se explica principalmente devido à forte queda de PL do FIDC ACB Financeiro, a qual resulta da falência do cedente do fundo, o Banco Cruzeiro do Sul, liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central após permanecer 180 dias sob Regime de Administração Especial Temporária (RAET). Nos três primeiros meses de 2013, o PL deste fundo diminuiu de R$ 2,72 bilhões para R$ 191,7 milhões, traduzindo em um decrescimento de 7,9% do PL consolidado (de R$ 22,30 bilhões em dezembro de 2012 para R$ 20,54 bilhões em março de 2013).

Atual vice-líder entre os custodiantes de FIDC em termos de PL consolidado, o Itaú esteve na primeira colocação isolada até o final do ano de 2008, e na primeira colocação alternada até o final de 2010. Até o final de 2008, os fundos cujos ativos estavam sob custódia do Itaú que apresentavam os maiores valores de PL eram os FIDC Cemig Conta CRC (R$ 1,80 bilhão), Caixa CDC Veículos do Banco Panamericano (R$ 1,64 bilhão), CESP IV (R$ 1,64 bilhão) e Multicredit (R$ 1,03 bilhão). O PL consolidado dos fundos do Itaú somava R$ 12,52 bilhões no final daquele ano.

Nos dois anos seguintes, o valor do PL consolidado diminuiu gradualmente, chegando a R$ 9,75 bilhões no final de outubro de 2010. O volume de PL consolidado voltou a superar o patamar de R$ 10,00 bilhões com a constituição do FIDC Globex Crédito Mercantil, o qual apresentou PL de R$ 1,34 bilhão no final de novembro de 2010. Mais na frente, entre os meses de outubro de 2011 e janeiro de 2012, houve uma elevação do PL consolidado impulsionada pelo início das atividades do FIDC Cedae, o qual registrou PL de R$ 1,21 bilhão no final de janeiro de 2012, e pela segunda emissão de cotas sênior do FIDC Insumos Básicos da Indústria Petroquímica, no valor de R$ 500,4 milhões. Ambos os fundos têm o Itaú como custodiante. O resultado final foi um aumento de 18,7% do valor consolidado de PL, de R$ 10,83 bilhões para R$ 12,86 bilhões.

O volume de PL se estabilizou até novembro de 2012. No mês seguinte, houve uma forte queda, de 32,7%, reduzindo seu valor de R$ 12,38 bilhões para R$ 8,34 bilhões. Tal variação negativa se deu por conta da liquidação de dois grandes fundos, os FIDC Cemig Conta CRC e Globex Crédito Mercantil. Em novembro último, o PL desses fundos somavam R$ 3,18 bilhões em conjunto. Além disso, o FIDC Multicredit realizou o resgate integral de suas cotas sênior e amortização parcial de suas cotas subordinadas, o que reduziu o PL do fundo em 44,4% (de R$ 1,38 bilhão para R$ 765,6 milhões).

No primeiro trimestre de 2013, o valor consolidado de PL dos fundos do Itaú se reduziu ligeiramente, passando de R$ 8,34 bilhões em dezembro de 2012 para R$ 8,10 bilhões em março de 2013, o equivalente a uma queda de 2,8%.
 
Diferentemente da trajetória dos dois primeiros colocados, a evolução do Banco Santander Brasil (Santander), atual terceiro colocado, ocorreu de maneira regular, com menos oscilações. O período mais impressionante de sua trajetória como custodiante aconteceu entre os meses de fevereiro e julho de 2010, com o advento dos FIDC Crédito Corporativo Brasil e Aberto PSA Finance Brasil I, cujos valores de PL no final de julho de 2010 foram de R$ 1,43 bilhão e R$ 1,16 bilhão respectivamente. Consequentemente, o valor consolidado de PL do Santander cresceu 170,3% naqueles cinco meses, de R$ 1,63 bilhão para R$ 4,39 bilhões.
 
A partir daquele ponto, o volume de PL consolidado dos fundos com ativos sob custódia do Santander seguiu em gradual ascensão, chegando ao nível de R$ 6,54 bilhões no final de 2012. No primeiro trimestre desse ano, o valor de PL consolidado registrou aumento de 1,0%, passando de R$ 6,54 bilhões para R$ 6,60 bilhões. Devido a esta trajetória sempre crescente, o PL consolidado referente ao Santander se aproximou bastante daquele referente ao Itaú, o que pode ser constatado na parte direita da Figura 1.

Conforme mencionado no primeiro parágrafo, caso seja contabilizado o FIDC Sistema Petrobras NP, atualmente o Itaú supera o Bradesco em PL consolidado custodiado. O Itaú ganhou o mandato de custódia deste FIDC em setembro de 2011.

A Figura 2 exibe o histórico do PL consolidado por custodiante desde 2008, considerando-se o FIDC Sistema Petrobras NP, apenas para os três principais participantes do mercado.

Figura 2



Em março de 2013, o FIDC Sistema Petrobras NP registrou PL de R$ 14,75 bilhões. Ao somar esse valor com o PL consolidado dos fundos com ativos custodiados pelo Itaú referente à mesma data, de R$ 8,10 bilhões, obtém-se o valor de PL consolidado de R$ 22,85 bilhões. Com esse volume o Itaú superava o Bradesco naquela data por uma margem de 11,2%.

Para mais informação sobre o mercado de custódia de FIDC, incluindo rankings anuais e estatísticas do setor visite a seção Rankings.
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